Duas mulheres, separadas temporal e espacialmente por dezoito anos. Uma delas conversa com a filha, menina que brinca entre as costuras da mãe. A outra está a espera de alguém que vai chegar, e enquanto isso ensaia com um gravador as palavras que serão ditas. Aos poucos, dos silêncios emerge uma história de violência como muitas outras, alternando divergência e carinho, palavras rudes e atos de amor. Esse movimento – aparentemente circular – se revela na verdade uma espiral, em que a intensidade da violência vai lentamente galgando patamares mais altos.
Segundo a autora, essa dramaturgia sustenta-se sobretudo no desejo e na memória, colocando em um espaço comum duas mulheres separadas por um barreira temporal de dezoito anos. O texto aborda com delicadeza uma história que poderia ter saído das páginas de um jornal, trazendo um dos muitos casos de violência que lemos diariamente. No entanto, a opção da autora é por tratar o tema em sua ‘complexa cotidianidade, sem desenhar heróis nem carrascos’, incluindo momentos de lirismo no improvável diálogo entre mãe e filha, fazendo emergir dos silêncios as palavras tantas vezes não ditas.
A encenação pretende valorizar as propostas da dramaturga, transitando entre os diferentes pontos de vista que compõe as relações dessa família: sutilezas entre mãe e filha, os encontros e desencontros do casal, relação de proximidade e afastamento entre pai e filha, a perspectiva sobre uma experiência vivida que se transforma com o tempo. Outro elemento presente no texto que será referência para a encenação é uma percepção temporal cíclica, que se revela de diferentes maneiras: na repetição de nomes das mulheres da família; na mãe que sempre perde seu dedal de costura; nas brigas que acontecem geralmente às sextas e os dias de amor, sempre às terças; na ação de esperar da filha que de alguma maneira remete ao cotidiano de espera da mãe, entre outros detalhes.
Atuação: Alice Possani e Erika Cunha
Direção: Verônica Fabrini
Dramaturgia de Grupo Matula Teatro, a partir do texto de Gracia Morales
Iluminação e cenotecnia: Eduardo Albergaria
Figurinos: Anna Kühl
Trilha sonora (criação e execução ao vivo): Dudu Ferraz
Provocações temáticas: Stella Fisher
Direção de Produção: Grupo Matula Teatro
Produção Executiva e Assessoria de Imprensa: Carolina Baraglio
Identidade Visual: Bruno Cardoso
Fotos: Maycon Soldan e Paula Poltronieri
Costuras: João Castilho
Bordados: Anna Kühl, Amanda Pitta, Erika Cunha, Flora Armani
Registro audiovisual Ericson Cunha, Pedro Ribeiro e Carlos Joaquim
Edição de imagens Ericson Cunha
Realização: Grupo Matula Teatro